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Gossip girl

Revelo um dos meus segredos mais guardados. Quando ainda novinha na profissão tentei ingressar na Revista Contigo.

Abro aqui neste espaço um dos meus segredos mais guardados por muito anos. Vantagem da maturidade, quando pequenas vergonhas passadas se convertem em piadas sob um novo e complascente olhar.


 


Pois bem. Após os primeiros passos no jornalismo dito "sério", tentei ingressar na Revista Contigo. Isso mesmo! Cansada de escrever bobagens sob máscara da austeridade, resolvi apelar e enviei meu currículo para Décio Piccinini, àquela época editor da publicação. Nem resposta obtive. Imagino não ter gostado do argumento utilizado. Sem mentiras, pedi a vaga argumentando que já que era pra escrever bobagem gostaria de radicalizar na Contigo.


 


Injustiça. Ao invés disso lá fui eu escrever nas editorias de agropecuária. Sem chances de cobrir os desfiles da São Paulo Fashion Week ou similar, freqüentei profissionalmente a pista da Expointer. Pensando bem não era tão diferente mas o glamour era muito menor, sem dúvida.


 


E pra que esta encheção de linguiça? Pelo simples motivo que hoje, olhando para trás, penso que não teria dado certo meu ingresso no mundo das fofocas sobre celebridades. Acompanho regularmente a cobertura deste mundinho e me desencanto pelo universo de doenças psicossociais que convivem livremente ali, onde tudo é permitido, menos bom senso.


 


Os sites norte-americanos que acompanham celebridades - reais ou fakes -, são os melhores. Elegem umas criaturas para seguir e a partir daí é um salve-se-quem-puder. Lindsay Lohan é meu exemplo mais querido. Ela dá linha pra fofoca, mas, ao mesmo tempo, nos milhares de pixel-coluna publicados sobre a ex-atriz-até-que-prove-o-contrário, raras vezes vi uma declaração entre-aspas. Por entre-aspas entenda-se: Segundo FULANO DE TAL, xx anos, ator, amigo ou qualquer coisa dela... Enfim, nunca vejo alguém que se responsabilize por aquilo que é escrito. Que mostre de onde veio a informação. Nada. Tirando os comentários do demente do pai dela, cuja aparente psicose justifica qualquer adição da LiLo (esta é típica... junte as primeiras sílabas dos dois nomes e forme um terceiro), nada de comprovadamente real é escrito.


 


Isso sem falar na perversão suprema que caiu na cabeça da Jennifer Love Hewitt há uns dois anos. A atriz estava na praia tranquilamente, de biquíni, claro, quando fotografam sua celulite. Ó céus! Uma bunda com celulite. Aquelas fotos se espalharam de tal maneira que a moça resolveu fazer dieta rigorosa. Magra como um pavio, o que fizeram estes mesmos sites? Anunciaram que estaria anoréxica.


 


E vão se acumulando as tais besteiras. Os sites de celebrities-gossip, como são chamados, publicam sem qualquer critério. Uma das bolas-da-vez é Gwyneth Paltrow, aquela que injustamente ganhou o Oscar de melhor atriz por Shakespeare Apaixonado (deixando pra trás Cate Blanchet, por Elizabeth, e a improvável Fernanda Montenegro, por Central do Brasil). O maior escândalo da vida de Gwyneth é ser uma das melhores amigas da versão Madonna mãe de família. Casada com um dos Coldplay, é quase uma pessoa “normal”. Daquelas de quem não se tem o que falar.


 


Isso no mundo das pessoas saudáveis. No mundo do news-celeb ela é o que chamam de uma A-List (top convidada na lista de qualquer evento). E uma A-List sem fofoca não se cria, queira ela ou não. E foi aí que decidiram acabar com a iniciativa de Gwyneth ter seu próprio blog, o Goop, onde registra suas dicas de filmes, restaurantes, passeios etc. A grande pergunta que fazem: “o que ela tem a dizer? Quem vai se interessar por isso?”. E aconselham: “Pare já!”.


 


Inacreditável. Eu posso escrever a merda que quiser, como tenho feito ao longo dos anos, inclusive e principalmente neste momento, e ela não. Ai, ai. Eu teria morrido de fome neste metier.