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As coisa que me acontecem

Recebi 4 mensagens de confraternização pelo aniversário da Revolução Farropilha. Gaúcho é bicho engraçado...


Hoje, 20 de setembro, quando abri meus e-mails encontrei quatro mensagens de confraternização pelo dia em que o Rio Grande do Sul celebra o aniversário (ou o que for) da Revolução Farroupilha. Em primeiro lugar acho engraçado que o Rio Grande do Sul inteiro celebre a data com unanimidade, como se jamais tivessem se dividido entre chimangos e maragatos. Ou seja, entre vitoriosos e derrotados.


Mas relevo pois já sei que lá é tudo assim mesmo. Gaúcho é esquisito pra caramba. Porto-alegrense sonha em sair de Porto Alegre, fala mal da "carroça", entope Santa Catarina no verão e, no dia em que consegue comprar uma casinha nas praias catarinenses ou onde quer que seja, passa a vida a lastimar que lugar nenhum é bom como "os pagos". Vai entender?


E olha que eu atestei esta tese em praticamente todos os estados brasileiros onde a gauchada tenha aberto fronteira agrícola ou abastecido de talentos as agências de propaganda. Para corroborar ainda mais minhas teorias, registro que as quatro mensagens recebidas partiram de rio-grandenses "expatriados" (sem separatismos na intenção do uso do termo, por favor).


Uma delas é uma ode ao chimarrão. Chega ao cúmulo de dizer que a bebida é o rito de passagem definitivo da infância para o mundo adulto. Descreve o choro de um pai ao ver seu filho tomar o primeiro mate.


Deve ser por isso que meu pai ainda me considera criança e me chama de "nenéia". NAs raras vezes em que tomei chimarrão, jamais o fiz na companhia dele. Aliás, há anos fui proibida por minhas amigas Rosângela Gloeckner e Cristine Meyer de me aproximar de uma cuia. Obediente que sou, acatei completamente tal ordem e, assim, fiquei em uma ou duas tentativas de tomar este treco.


Nas poucas vezes em que me arrisquei a tomar o líquido quente e amargo deixei cair das mãos o aparato, que estatelou-se no tapete da casa de não lembro qual das duas. Lembro, isso sim, que foi uma lambança fenomenal. Uma "caneca" redonda, quente e sem alça foi feita pra escorregar das mãos, oras. Não venham me culpar.


Outra mensagem recebida reproduz o que seria um texto do Arnaldo Jabor tecendo loas ao caráter do gaúcho. Tá bom que Jabor teria dito que os gaúchos serão os responsáveis pelas mudanças que virão neste país. Procurando na internet encontrei não só o texto recebido mas vários "escritos" por Jabor, sempre louvando a gauderiada em uma verdadeira demonstração de bairrismo sem critérios, como é natural no bairrismo, diga-se. E como ser bairrista sem sequer ser do bairro? Perdoe-os, Jabor. A paixão cega e faz com que até o nome alheio seja utilizado para justificar megalomanias regionalistas.


Gente estranha mesmo. Mas... como não acho que sou suficientemente boa para fugir a esta carga genética ou cultural, busquei em mim um resquício de gauchismo pra tentar me adequar ao grupo. Não encontrei mas reconheci algo bom em tudo isso.


O mesmo bairrismo que é chato pra danar e capaz de gerar fantasias de superioridade, fez criar um universo paralelo onde gente totalmente desconhecida no resto do país consegue sobreviver do que gosta, produzindo para seus iguais. Isso é raro no mundo.


Os caras têm uma música só deles, uma literatura só deles.. enfim... toda uma produção cultural (urbana e rural) só deles. E lá todo mundo fala mal, é claro. E lá todo mundo consome, é claro.


E vão vivendo. Uma vez por ano saem da toca e me mandam estes e-mails absurdos. Não pelo conteúdo mas pelo equívoco de me associarem ao grandioso momento histórico da Guerra dos Farrapos, já que eu nada tenho de Ana Terra.