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Sentimentos humanos

A ginasta Khiuani Dias chora e reclama que faz tudo errado, mas quem faz tudo errado somos nós. E o pior é que, por sermos nada, a única palavra publicada é a dela. Etsá tudo errado.


Em pleno Pan a falta de um número mais significativo de medalhas não me surpreende. Me entristece, sim, saber que tivemos anos para uma preparação que trouxesse um pouco mais de resultados já que jogamos "em casa", mas isso já era esperado. Triste mesmo foi ouvir a ginasta Khiuani Dias, de apenas 15 anos, dizer: "eu não consigo fazer nada certo", em lágrimas pela nona classificação entre as 24 finalistas da prova geral individual da ginástica artística.


Como assim, Khiuani? Quem não consegue fazer nada certo somos nós. Olha só que título vergonhoso o repórter Renato Alexandrino tascou na sua matéria "Dia para ser esquecido pela ginástica feminina", publicada no site O Globo. Ele sim deve se envergonhar.


Sabe Khiuani, 90% da população mundial jamais realizou qualquer dos seus sonhos. Aliás, 90% da população mundial sequer tem sonhos. Parcela significativa das meninas deste país, quando perguntas sobre o que querem ser da vida, dizem que querem ser "famosas". A outras não damos sequer a chance de escolha. Os shoppings centers, neste mês de férias escolares, estão repletos de jovens ociosos e seus cabelos "emo". Grande parte com quilos a mais, pelo sedentarismo, e outra com quilos a menos, por falsos valores estéticos. E esta menina acha que fez tudo errado?


Quem disse isso a Khiuani? Tire já isso da cabeça. Se alguém a convençou de tamanha sandice, ignore. Provavelmente será mais uma criatura a querer compensar sua mediocridade pra cima de você.


O ser humano tem destas coisas. Até uma semana atrás ninguém sabia quem era Khiuani Dias. Depois Khiuani Dias passou a ser "aposta nacional". Com não obteve o resultado esperado, passou a protagonista do "Dia para ser esquecido". Se tivesse vencido seria o orgulho nacional, a "cara" do Brasil, "o fenômeno". Pergunte a Guga ou a Ronaldo Nazário.


Siga o exemplo de Joaquim Cruz, aquele que acendeu a pira olímpica na abertura dos jogos. Há muitos anos o deixei surpreso ao, durante entrevista, parabenizar o atleta por algo que ele havia dito há pelo menos 20 anos. Num Mundial de Atletismo vencido por ele, em pleno Dia das Mães, um repórter se aproximou e perguntou a quem ele dedicava aquele título, certo de que homenagearia as mães brasileiras. Qual nada.


Joaquim Cruz, que eu gostaria que fosse exemplo de Khiuani, disse: "dedico este prêmio a mim, ao meu esforço e dedicação ao longo destes anos" (algo assim).


Certo ele em não dar trela pros outros.