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Páginas da Vida engasga

Ouço e leio, aqui e ali, que a novela Páginas da Vida não agrada tanto quanto seria esperado pela Globo. Claro! Traição ou adultério existem e são relevados. Mas que o assunto não venha incomodar na hora do jantar.


Ouço e leio, aqui e ali, que a novela Páginas da Vida não agrada tanto quanto seria esperado pela Globo. Claro! Traição ou adultério existem e são relevados. Mas que o assunto não venha incomodar na hora do jantar.


Há várias olhares sobre o que se convencionou chamar "traição". Há aqueles que acreditam que isso é bobagem, que ninguém é de ninguém e que relações afetivas podem muito bem conviver com encontros sexuais rápidos e casuais. Existe ainda quem consiga ter (ou acredite nisso) um coração amplo, capaz de amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo.


Uma parcela mais ampla, me parece, acha que a monogamia é tudo e não a perdoa sob qualquer argumento e, por fim, os que sonham com a monogamia mas aceitam a inevitabilidade das "puladas de cerca", suas e de seus parceiros.


Difilcil é qualquer representante de um destes tipos, e tantos outros que existam, conviver emotivamente com outro de igual pensamento. Desta forma, a probalidade de sempre haver o "traidor" e o "traído" é enorme. Grande mesmo. E aí reside um dos maiores problemas da novela de Manoel Carlos.


Vamos fazer uma brevíssima análise sobre um casal que veja a novela bem na hora de um daqueles famigerados discursos do Aristides (Tarcísio Meira) sobre as maravilhas do amor eterno e da fidelidade. Ou tenha que ouvir mais uma vez Helene (Regina Duarte) falando sobre o que "lhe fez" Greg (José Mayer).


Na hipótese nada remota deste casal já ter passado (ou passar no momento) por alguma situação similar, a saia justa estará instalada naquela casa. O "traídor", com medo de que toda ladainha queixosa recomece. O "traído", relembrado estará de "tudo que sofreu".


Sim... as pessoas relevam... passam por cima... sublimam... seguem a vida. Mas quem se incomoda com isso não deixa de se incomodar só porque ponderou e apostou na relação (seja por qual motivo for... afetivo, sexual, econômico etc). Esta pessoa apenas decidiu não pensar mais no assunto. E, principalmente, não TOCAR mais no assunto.


Aí vem o Manoel Carlos trazer pra hora do jantar uma das maiores mazelas da família brasileira. Não... é demais. Falar de gay ainda vá... é sempre o filho do outro. Falar de doença mental é fatalidade aceitável, da qual não temos culpa e nem responsabilidade. Raça não é opção e a gente pode fingir que não sofre ou não é racista, logo... o assunto não nos incomoda tanto assim. Mau caratismo também pode ser dissimulado.


Mas "corno" não. Fere a alma do brasileiro desde sempre. É ofensa suprema. É algo que até bem pouco tempo atenuava crimes horrorosos em nome da "legítima defesa da honra". Para os homens, ser "corno" é quase como admitir a possibilidade de ser um "filho da puta", afinal... se a mulher trai... a mãe bem poderia... Não. Melhor nem cogitar. Para a mulher é mais um escancaramento da sua ineficácia seja lá no que for. A culpa é dela, claro. Sendo ou não.


Quer dizer... além de um contigente cada vez maior de pessoas que não gostam de novelas, que estão cheias delas, Manoel Carlos está perdendo a atenção de tradicionais noveleiras (os). Gente que não quer se ver tanto assim.


Por que vamos ser justos... não são só os textos de Manoel Carlos que apelam. Assim como as cartas, as brigas de (des) amor também são patéticas. E isso está ali. E, quem sabe, pior que mostrar nosso "corno", é mostrar nossa reação a ele.


Socorro!