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Os ricos se entediam primeiro?

Leitor defende que o barateamento dos aparelhos levaram ao empobrecimento da programação.

Um leitor escreve mencionando o desenvolvimento industrial dos últimos anos e, de certa maneira, credencia a transformação a má qualidade do que nos é apresentado hoje na televisão. Em resumo ele defende que, com o barateamento dos aparelhos, eles se popularizaram e que, com isso, a programação também teria seguido este rumo.


Hum... pode ser. É uma teoria interessante e defensável, muito embora eu não goste de associar o termo "popularizar" a mau gosto. Fosse assim, algumas manifestações absolutamente populares não seriam maravilhosas. Mas isto é outra história, vou adotar o termo "popularizar" como quase sinônimo de má qualidade.


Em primeiro lugar, não estou tão certa assim que a TV de outros tempos seria melhor que a de hoje. E não porque a de hoje tenha mais gabarito, não é isto o que quero dizer... mas acho que são igualmente boas e ruins. Tudo bem, O Bem Amado era melhor que Suave Veneno, mas as minisséries feitas atualmente são tão boas quanto.


Lembro que há mais ou menos duas décadas eram feitos experimentalismos em novelas, o que hoje não é sequer cogitado. Houve uma novela, Espelho Mágico, que não apresentava linearidade alguma. Os atores interpretavam atores que faziam uma novela e uma peça de teatro dentro da novela. Muito interessante e de pouca valorização. Houve ainda a novela Sinal de Alerta, meio futurista, e O Rebu, cuja trama transcorria em a “couple of hours”, que as traduções insistem em verter erradamente para "duas horas".


Mas neste tempo os televisores ainda eram caros e nem assim estas foram novelas de grande audiência para os padrões da época, o que pode derrubar a teoria do meu caro leitor e que no momento defendo.


Da mesma forma associar industrialização e qualidade é perigoso. Se por um lado havia O Sítio do Pica-pau Amarelo, Vila Sésamo e todos os musicais infantis maravilhosos que já foram produzidos... é bom não esquecer que Balança Mas não Cai, Escolhinha, A Praça é Nossa, Hebe Camargo etc não são invenções dos 90's.


Achar que a popularização do aparelho exerce a maior influência no baixo nível da programação pode simplificar demais as coisas. Dentro desta linha, contudo, penso que três fatores relacionados a este fato contribuem para que nós, que de um modo geral não gostamos do que é feito, larguemos paulatinamente o veículo:


1. Apesar de tudo, da falta de investimentos e incentivos públicos, ao menos a classe média está mais escolarizada;


2. A industrialização - videocassetes, CDs, Internet, publicações etc - melhorou muito o processo de informação no país. Houve um avanço tecnológico que não foi acompanhado pelo artístico;


3. Trata-se de um veículo de massa e, por ser assim, é feito para o telespectador médio. Jamais agradará aos mais exigentes no Brasil, na Inglaterra ou em qualquer lugar do mundo. E nunca foi tão "de massa" quanto é hoje.


Pode mesmo ser que algumas pessoas não estejam mais gostando de televisão porque, como disse meu "missivista-eletrônico", antes poucos tinham TV. Se ele estiver certo, imagino que estes poucos talvez hoje estejam saturados de ver sempre a mesma coisa, já que vêm a mesma coisa há mais tempo.


Raciocínio elitista? Não. Se tudo der certo, daqui a alguns anos todos estarão igualmente saturados.