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Tente passar pelo que estou passando”… e veja Pérola Negra ou Muvuca até o fim

Duas estréias amplamente anunciadas. Uma fica dentro do esperado, a outra só não frustra porque ter qualquer expectativa seria completo absurdo.

Duas estréias amplamente anunciadas. Uma fica dentro das expectativas, a outra só não frustra, porque ter qualquer expectativa em relação ao que a TV apresenta seria completo absurdo. Entram no ar "Pérola Negra", no SBT, e "Muvuca", na Globo.


A estréia que fica dentro das expectativas, minhas, é "Pérola Negra". A irmã mais velha de "Carrossel" e "Chiquititas". Definitivamente a emissora do Seo Sílvio gosta de um uniforme escolar.


Não vou entrar no mérito do roteiro. A estória gira em torno de duas moças que estudam juntas em um internato. Uma é rica e a outra não. A rica é ingênua, a remediada é esperta. A rica deixa-se envolver por um conquistador e engravida após sua primeira e única relação sexual. A remediada apóia-a. A rica praticamente não conhece sua família, exceção feita ao avô, único parente que a visita.


O avô morre e as duas colegas sofrem um acidente. Morre a rica e a amiga toma seu lugar. A partir daí, a morta segue na novela através de aparições angelicais. Precisa saber mais? Então ligue a televisão às 20 horas para acompanhar a novela.


Mas cuidado! A riqueza só está no núcleo dos grande empresários da novela, pois os cenários, a iluminação, a interpretação e a direção estão abaixo de qualquer crítica. O que vi da novela se resume a isto: uma câmera que só varia na altura, poupando travellings, contraplanos ou efeitos de profundidade; a mesma iluminação para cenas de internato ou de alcova; um cenário onde a tinta fresca e a madeira gritam; e Patrícia de Sabrit brigando para provar que é um pouquinho melhor que sua colega Vanusa Spindler - o que não significa muito.


"Pérola Negra" não é pior, porque tem a seu favor o fato de querer ser exatamente o que é: uma novela para a família brasileira. Seja lá o que isto represente e seja lá o que as pesquisas do SBT apontem como "a família brasileira". Com certeza não foi feita para mim, já que não sou exatamente um tipo muito família.


Agora... "Muvuca" é de lascar. O programa, anunciado com alarde pela emissora, é uma das coisas mais execráveis já transmitidas na TV brasileira. Duvido que o Sr. Roberto Marinho tenha poupado o núcleo de Guel Arraes de seus torpedos. A baixaria rola solta neste mergulho egocêntrico de Regina Casé.


Isto faz lembrar um antigo articulista do Folhateen, que sugeriu matar Regina com um tiro. O rapaz foi sumariamente afastado da Folha de São Paulo. É claro que ele não queria matar a atriz... e nem eu apoiaria uma idéia destas. Mas entendo, quando ele reclamava deste vício brasileiro de proteger a "turminha".


Regina Casé é fantástica. Excelente atriz, ótima comediante... só que não é porque é Regina Casé que tudo o que venha a fazer deva ser encarado como "moderno", "criativo" ou qualquer coisa positiva.


Levar Angélica para o banheiro e ocupar um bom espaço do programa conversando com a apresentadora sobre sua vida sexual, até não me causa espanto. Mas massacrar meus ouvidos com a repetição abusiva de expressões como "você deu no primeiro dia da viagem", "sua mãe sabia que você tinha dado" e afins... socorro!!!


A aparição do porto-alegrense Edu K. com seu grupo De Falla, foi a mais rica manifestação de decadência que já vi. Acho pouco provável que alguém tenha entendido qualquer coisa. Sequer os porto-alegrenses acostumados à figura pouco ortodoxa do cantor que, já aos quinze anos, (há uns 13 anos e quilos atrás) era exatamente assim como apareceu em "Muvuca".As cenas em que um grupo de candidatas a cozinheiras pica legumes e prepara claras em neve sob a avalanche de perguntas cretinas de Regina também seria dispensável. A artista indagava às pobres figurantes, com delicadeza comovente: "alguma vez você deu para o patrão"?


Ela não cansa e segue o festival de baixaria. O que poderia ser uma matéria (???) interessante sobre como escapar de estupros com aulas de jiu-jítsu-pegação virou em mais uma chanchada. Casé dizia para Gracie, o mestre, palavras bonitas como "deste jeito eu que vou currar você", "relaxa e goza" ou insinuava que um "estuprador" bonito como ele até daria para encarar.


Entra no ar então Cid Moreira. Se Regina Casé poupou o locutor, e o público, das inconveniências cometidas até então... foi o máximo que fez. Cid Moreira tentou ser sério, mas Regina só queria saber, se ele usava calças ou bermudas por baixo da bancada do Jornal Nacional. Gostemos ou não do locutor, ele provavelmente teria informações mais importantes a revelar.


A diferença fundamental entre "Pérola Negra" e "Muvuca" é que a equipe de Sílvio Santos provavelmente fez o melhor que pôde com seu orçamento. A equipe de "Muvuca" rasgou dinheiro em um programa que deverá ter vida curta ou profundas modificações. Lastimável.