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Afogada em perdigotos

Duas semanas pelo interior do país são capazes de nos fazer sentir saudade das dublagens do Discovery e da Teleuno.

Volto de um mundo repleto de Ratinhos. Duas semanas pelo interior do país são capazes de nos fazer sentir saudade das dublagens do Discovery e da Teleuno.


Parangolés, Carrapichos, Cadeias... clones ou precurssores de Ratinho e Afanásio. Ou o que eles seriam, caso não fossem...


Defensores e apologistas da pena de morte, afirmam suas virilidades na base do grito. Passam 45 minutos (no mínimo) esmurrando mesas inocentes e aspergindo perdigotos na câmera (é provável que as emissoras tenham seguro dos equipamentos. Ou estes são impermeáveis? Irgh!?...).


Não sei se pior ou melhor, há os programas femininos e suas entrevistas maravilhosas. Segundo uma amiga pé vermelho as apresentadoras do interior sempre estão acima ou abaixo do peso. Deve ser por causa dos infalíveis quadros de receitinhas aos quais agora até o Jornal Hoje sucumbiu. Fórmula fácil para preencher manhãs e tardes intermináveis com personagens que expõem inteligência da "profundeza" de um pires.


E o jornalismo? Trouxe na bagagem, especialmente para meus leitores, uma relíquia: o valente repórter saiu a campo para demonstrar o medo da sociedade ante sucessivos assaltos a ônibus de turismo. Após um texto longo e contundente contra tais ações de "elementos malévolos", entram as entrevistas na rodoviária. Os entrevistados foram de opinião unânime. Todos demonstraram muita segurança e satisfação em viajar de ônibus.


Vixe!! A pauta caiu e só o editor não viu!!


Tem ainda os programas culturais das bucólicas manhãs de sábado e domingo. O desfile de talentos locais só perde pro recital de poemas "de autoria própria" em encerramento de ano letivo na escolinha primária da afilhada.


Nestes insólitos momentos lembro que a natureza nômade dos gaúchos já legou ao país muita coisa boa... mas também muito gaiteiro de 5ª categoria.


Teoria que poderia ser aprofundada pelo colega do Oigaletê.


Colocando na ponta do lápis os jeitos regionais de fazer televisão, a soma dá sempre o mesmo resultado. Trata-se, invariavelmente, de programação doméstica e econômica. Do tipo que até os horrorosos comerciais - de péssimo gosto e baixíssimo nível de produção, apelo e criatividade - conseguem pagar com lucro.


Há quem defenda que, no cômputo geral, o prejuízo é da comunidade. Para conferir o que acontece em seu quintal acaba tendo que aceitar este bombardeio de cretinices.


Os impiedosos diriam que, assim como os políticos, os comunicadores são seres pinçados, representantes de seus eleitores/espectadores. Ou seja, esta televisão - que se multiplica em concessões privilegiadas - seria o espelho de quem a assiste.


* Com a valorosa contribuição de Lara Sfair, a jornalista pé vermelho.