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Efemérides

Há a fase das festas de 15 anos, das formaturas, dos casamentos, dos nascimentos... eis que chego na fase dos velórios. Os pais de meus amigos começam a falecer...


Não há novidade alguma que nossa vida é cheia de efemérides, pessoais ou não. Há a fase das festas de 15 anos, das formaturas, dos casamentos, dos nascimentos... eis que chego na fase dos velórios. Os pais de meus amigos começam a falecer e é inevitável que intensifique minha preocupação com os meus, ainda que de concreto nada possa fazer a não ser aproveitar-me deles o máximo possível e preparar-me, se é que isso existe, para o desfecho.


Uma de minhas amigas cujo pai faleceu há uns 5 anos me disse, logo após o velório: "é impressionante a diferença do cumprimento dos amigos que ainda têm pais daqueles que já perderam ao menos um. Os primeiros dizem que tudo vai passar, pra eu ser forte, estas coisas. Os segundos dizem que não passa jamais mas que nos habituamos com a ausência".


Não me coloco em nenhum dos dois grupos de amigos. Eu não digo nada nestas ocasiões pois imagino que minha presença já denuncie solidariedade e fico lá, num canto qualquer. Converso com este ou aquele. Me coloco disponível para tarefas que se façam necessárias, e fim. Normalmente verborrágica, não me arrisco em território desconhecido. Com isso espero poupar a mim e ao amigo das obviedades que, percebo, fazem explodir lágrimas a cada novo abraço que chega.


Se tivesse coragem diria apenas para que os amigos não se sintam culpados por nada, como às vezes percebo sentirem-se. Mas não é o momento para dizer que aquela relação, boa ou ruim, foi construída a dois, às vezes três. E que também não culpem pois se há uma máxima na qual acredito é naquela que diz que uma pessoa só pode dar aquilo que tem.


Na verdade o que eu tenho vontade mesmo de dizer é que só a saudade se justifica nestas horas pois todos os demais sentimentos são inúteis. Tarde demais para eles. Mas eu não digo nada pois como jamais passei por isso, felizmente, posso estar só pensando besteira.


E torço muito para que meus amigos não confundam tanto silêncio com frieza, como é praxe sentirem sobre mim. Eu só estou dando espaço para que sintam o que precisem sentir.


Isso um dia me bastará.