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Tá bom… eu reconheço

Em maio completarei aniversário de dois anos sem fumar. Sou capaz de fazer uma lista razoável de ganhos em minha vida, algumas já conhecidas de todos e outras nem tanto. Vamos lá...


Há dois anos decidimos parar de fumar aqui em casa. Naquele momento eu fumava há tempo suficiente para estar completamente comprometida e, antes que um médico olhasse para minha cara e mandasse eu parar, o fiz por mim mesma. Talvez porque nunca tenham funcionado ordens comigo, quem sabe por isso tenha decidido me antecipar.


Sabe o cara que continua sentindo coceira na perna amputada? Fiquei muito tempo fazendo o habitual gesto de pegar o cigarro  na mesa em que trabalho, em frente ao computador. Distraída digitando, estendia o braço para pegar o maço que não mais existia ali. Não foram poucas vezes, creiam. A mesma mão buscava na bolsa o cigarrinho usual à saída da visita ao Colégio Integral, cliente que pela natureza de seu negócio não permitia cigarros lá dentro. Por anos percorri o longo corredor de saída da escola já com o cigarro na mão, aguardando a chegada à rua para tascar fogo e dar uma baforada daquelas.


Não vou ficar aqui contando as agruras que passei para me sentir livre do cigarro, se é que estou de fato livre. Não foi fácil mesmo mas acho que algumas coisas valeram a pena. Além de saúde, roupas e casa cheirosas, fôlego... enfim... todos estes ganhos conhecidos e amplamente divulgados pela mídia, há três muito legais.


Dinheiro é um deles. Aqui em casa fumávamos um carro popular a cada 4 anos. Se você não tem carro, imagine poder comprar um carrinho em 4 anos. Se você tem um carro popular... imagine que pode dá-lo de entrada e sair agora mesmo da concessionária com um bem melhor, pagando as prestações com o cigarro. Ou então pense que a cada 4 anos você pode pegar sua nêga (o) e ir pra Paris ou Nova York. Pagar um plano de saúde... Em casos mais apertados, com o dinheiro do cigarro dá pra tirar o filho da escola pública e colocar em uma particular. Nada mal, né?


Outro ganho importante diz respeito ao inverno. Eu passava muito frio dentro de casa. Como fumava feito uma louca, era impossível colocar ar-condicionado no meu escritório. Cigarros, janelas fechadas e ar-condicionado não combinam. Então, inverno e verão, eu ficava com a janela aberta. Acreditem, eu passava muito, muito, muito frio e não parava de fumar. Eu tremia e fumava. Isso acabou. Há dois anos trabalho aquecida em minha mesinha.


E finalmente o que pra mim talvez seja o principal ganho. Parar de fumar foi uma grande coisa que fiz por mim. Um objetivo conquistado. Algo que só dependia de mim (e dos alicerces que eu mesma busquei) e não me desapontei. Consegui. Sempre é bom alcançar objetivos de qualquer natureza.


Agora... vamos falar sério. Se aquele médico lá do início me pegar hoje e disser que tenho só três meses de vida e eu confirmar isso com mais um ou dois... eu juro. Que se lasque o carro, a viagem pra Paris, a escola do filho, a roupinha cheirosa, a janela fechada.


Eu saio do último consultório e compro um pacote de cigarro. E dou uma bela tragada. E tusso, tusso, tusso como há dois anos não tusso mais. E tenho certeza que será um grande prazer.


Eitcha nicotinha.