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Estelionatários do saber

Revigora-se a discussão sobre a confiabilidade da Wikipedia, enciclopédia virtual escrita e revisada por internautas do mundo inteiro.


O jornal The Independent publicou, e a Folha de São Paulo de hoje também, notícia sobre um falso teólogo que teria se arvorado de especialista e reconhecido como tal pela Wikipedia e pela revista The New Yorker. Na verdade Essjay (apelido do malandro) é um estudante de 24 anos que baseava suas "contribuições" no livro "Catolicismo para Idiotas".


Revigora-se agora a discussão sobre a confiabilidade da Wikipedia, enciclopédia virtual escrita e revisada de forma colaborativa por internautas do mundo inteiro.


Ora, ora, ora! Grátis ou não, as inverdades podem estar em qualquer parte. O aluno que copia-cola da internet para um trabalho tanto poderá se dar mal se usar como fonte a Wikipedia quanto o The New York Times. Em ambos existe a chance do equívoco (erro, manipulação... como queiram). Ou não teria a célebre, cult e conceituada The New Yorker mencionado Essjay como um schoolar tanto quanto a Wikipedia?


Reflexão mais proveitosa seria se utilizássemos tal acontecimento como um alerta vigoroso para os males do milênio. Se vivemos mesmo a Era do Conhecimento... aquela em que o valor maior está no capital intelectual... porque acreditar que não surgiriam os estelionatários do saber? Aqueles que ao invés de falsificarem dinheiro ou assinaturas, simulam sabedoria.


Os estelionatários do saber.. hummm... quem vai controlar isso? Sorry povo. Ninguém. Pra controlar saber é necessário que se saiba pelo menos questionar. Coisa rara, muito rara.







Obs.: E para quem acredita que estelionato cultural é coisa nova e que os pensadores de "esquerda" estão todos ultrapassados, sugiro a leitura de "Cultura e Simulacro", de Jean Baudrillard*. Em 1978 ele já dizia:



"Hoy en día, la abstracción ya no es la del mapa, la del doble, la del espejo o la del concepto. La simulación no corresponde a un territorio, a una referencia, a una sustancia, sino que es la generación por los modelos de algo sin origen ni realidade: lo hiperreal".


* Escrevi esta observação no dia em que morreu Baudrillard e nem sabia. Coincidência total pois há pelo menos 10 anos não mencionava o filósofo.