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Atores Tamagoshi

Reconheçamos... meia página de FSP para uma atriz que não atuava desde 91 é muito mais do que terá grande parte dos atores-tamagoshi que andam por aí.

Como sempre faço logo ao acordar, pego meu copinho de suco de laranja e ponho-me a ler o jornal. Na capa, além de mais uma fotografia ilustrando a disputa MST x FHC e manchetes sobre a cobrança dos pedágios, dois outros destaques chamam a atenção.


Um, sobre I love You. O vírus transmitido por e-mails que surgiu para deixar, em apenas um dia, 80% das companhias suecas “fora do ar”, para ficarmos somente no que talvez seja o exemplo mais dramático.


O outro destaque, que não tem o singelo nome de I Love You mas que em muitos casos tem tudo a ver com amor, refere-se à morte da atriz Sandra Bréa. Também causada por um vírus que tem deixado “fora do ar” muita gente.


O primeiro recebe uma página e meia. O segundo, meia. Normal. AIDS já não é novidade e, cá pra nós, os computadores estão muito mais presentes na mídia e em nossas vidas do que a atriz.


Mas não foi sempre assim. Alguém que tenha menos de 30 anos dificilmente terá a noção exata do que representou a atriz para os brasileiros. Meu irmão, por exemplo, hoje um quarentão bem apessoado (ressalto para não ganhar um inimigo) era alucinado pela jovem atriz que nos idos de 70 interpretava a filha de Odorico Paraguaçu em O Bem Amado, novela do tempo em que ainda havia boas novelas e em que as sumárias tangas usadas pela atriz ainda causavam clamor.


Cercada pelo misto de adoração e inveja no qual vivem as estrelas, atos como mostrar os seios nus em uma janela porto-alegrense atiçavam o imaginário sexual de uns... e o rancor ciumento de outras (no feminino mesmo).


Mas não quero aqui fazer uma ode a Sandra Bréa. Jamais pertenci ao grupo de seus adoradores e tampouco ao de seus detratores. Pra falar a verdade, nem sequer a considerava boa atriz, apesar de reconhecê-la belíssima.


Quero mesmo é ressaltar como esta mesma pressa com que surgem e se propagam os vírus de computadores... como esta mesma pressa hoje comanda a libido das pessoas.


Com exceção a Vera Fischer, reserva nacional das grandes musas, “deusas” e “deuses” chegam a vão com volatilidade impressionante. Ou você é capaz lembrar quem foi a musa do verão 98/99?


A televisão, esta maquinha que domina nossa sala, é pródiga em criar astros e estrelas. Mas suponho que, ao lançarem novos nomes ao estrelato, as emissoras no fundo gostariam de encontrar alguém que representasse um bom investimento em prazos mais alongados, de duração superior ao período de uma ou duas novelas.


Quem não gostaria de ter sob contrato uma Catherine Deneuve (a reserva mundial de grandes musas)?


Tanto isto pode ser verdade que mesmo com seu comportamento indisciplinado (que já valeu até sanções drásticas), a Globo, com todo seu poderio, não prescinde de chamar Vera Fischer para estrelar uma nova produção.


Me perdoem Débora Secco, Camila Pitanga, Thiago Lacerda e afins, todos umas gracinhas, mas falta a eles o plus que faz uma estrela. Falta-lhes “atitude”, uma expressão que, paradoxalmente, é sempre mencionada pela geração dos atores citados para exemplificar característica pessoal que admiram.


Enquanto isso os “musos” e “musas” vão se como vírus cibernéticos. São criados e distribuídos em profusão até que surja um antídoto, aí seus idealizadores mudam uma ou duas “linhas” do “programa” e tudo começa novamente. Saem dos “chips” novas estrelas que só não são virtuais porque existem biologicamente.


Também como os vírus de computadores, compreensivelmente ocupam mais páginas em jornais que o HIV e a morte de Sandra Bréa. 


Mas reconheçamos... meia página de FSP para uma atriz que não atuava desde 91 (desconsiderando participação relâmpago no último capítulo de Zazá, em 98) é muito mais do que terá grande parte dos atores-tamagoshi que andam por aí.