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Dai-me paciência!

Igreja coloca a pesquisa com células embrionárias como um novo "pecado social". Fico impressionada como ainda não aprendeu que suas tentativas de manter o controle total são inúteis. Cedo ou tarde sucumbiram e sucumbirão todas.


Desde o início do ano ando afastada deste espaço. Não por desdém, com certeza. Ocorre que, devo confessar, nada tive a dizer neste período. Ninguém haveria de ter paciência de me ler narrando as agruras do término de uma obra, sobre o AVC da sogra, a síndrome de pânico que mora ao lado ou acerca do suposto tumor pulmonar da minha contra-comadre. Nem eu aguentaria, para além de viver, comentar tudo isso.


Mas hoje, ao receber a Folha de São Paulo, leio já na capa que a "Igreja Católica lista manipulação genética e uso de drogas como novos pecados". Ah... este assunto me faz subir nas tamancas.


Quero aqui dizer que este tema me incomoda por dois aspectos. Primeiro que sou absolutamente favorável à pesquisa com células-tronco, células embrionárias e tudo o mais que se apresente. Não matando criancinha pra tirar o rim, tô dentro. Mas aquilo lá que estão pesquisando, acredito cegamente, não são criancinhas.


Todos sabem que pensar assim me convém. Portadora de doença auto-imune (rhupus = lupus + artrose), sou grande interessada nos avanços das pequisas na área. E fico louca por saber que aquele bando de velhinhos reacionários fica sentadinho lá no Vaticano a soltar comunicados que visam me tirar o sonho de parar com o Reuquinol, o Artrolive e tudo o mais que tenho ou terei que tomar pro resto da vida (ainda bem que existem, não estou reclamando). Pior... que tentem acabar com minha esperança de voltar a ter um corpo bronzeado, coisa que me é absolutamente proibida. Isso sem falar em uma existência livre das dores provocadas pelo talzinho.


Pode parecer bobagem mas pergunte a um diabético o que ele faria por um tequinho de pudim no almoço de domingo?


Ah... que egoismo o meu! Pensar em pudim e sol quando estarão em jogo embriões de vidas humanas. Bem... pra mim vida humana só existe depois que vinga. Desculpem os crentes.


O segundo incômodo que me causa esta posição católica tem a ver com algo mais genérico. Odeio discutir obviedades. Detesto perder tempo com aquilo que é inexorável e que foge à razão.


Ora, ora, ora... vejamos.


A Igreja Católica, e em geral todas, é campeã em ditar regras que a desmoralizam pelo descumprimento. Desde a condenação de Galileu, a Igreja perde para a ciência. E desde sempre perde para a vontade popular. Ou não seria ela contra o adultério, o divórcio, o homosexualismo, o sexo fora do casamento e sem fins procriativos bla bla bla bla. Qual destes recebe real atenção da galera? Quem não comete ao menos um destes pecados, mesmo que secretamente? Nem o mais carola dos seres. Sequer o próprio corpo da instituição máxima cristã.


Então fico impressionada como ainda não aprendeu que suas tentativas de manter o controle total são inúteis. Cedo ou tarde sucumbiram e sucumbirão todas. Tem sido assim ao longo de milênios, ao menos dois.


Só que enquanto isso fico eu aqui, esperando que absorva o inevitável.


Dai-me paciência!