Pular para o conteúdo

Filas no TRE facilitam minha decisão

Mais uma vez boicoto a tentativa de transferir meu título eleitoral e fico livre de escolher entre a desgraça e a tragédia.


Sou do tempo em que não existiam estudantes universitários de direita. Bem... eles até existiam mas ficavam bem caladinhos pois eram minoria vexatória no ambiente dos campi. O grosso dos universitários se dividia entre stalinistas, trotskistas e anarquistas, com suas dezenas de sub-divisões. De qualquer forma, muito antes das minisséries da Globo, sabíamos assobiar a Internacional Socialista.


Eu, naquela época, era anarquista. Achava bacana me dizer adepta dos pensamentos de Bakunin, Chomsky ou Proudhon. Era uma época em que acreditava num mundo sem fronteiras, de verdade. Não este pastiche globalizado.


Mas tudo isso, como diria uma ex-chefe minha, é "nariz de cera", ignorando que a nomenclatura "nariz de cera" não se aplica a diários, artigos ou crônicas...  tenha lá o nome que se dê a isso que escrevo no momento.  Seja como for, tudo isso é enrolação para dizer que eu, como anarquista, não acreditava no poder do Estado, em governos e em nada que de alguma forma tentasse me representar institucionalmente. Aliás, pouco me lixava para as instituições.


Só que o tempo passou e, como os stalinistas e trotskistas daquele tempo, caí na real e decidi que seria melhor ganhar dinheiro. Ou tentar, ao menos. E na medida em que tentava, algumas questões começaram a entrar na minha vida. Já que eu vivia em um Estado, que ao menos pudesse escolher quem o dirigiria, o que até então não me era permitido.


Contrariando meus pensamentos anárquicos, perfilei-me às massas que foram para as ruas exigir "Diretas Já". Com camisetinha, bottom e bandeira. Conseguimos.


Primeira eleição... Collor. Sem comentários. Segunda e terceira... FHC. Não votei no Fernando Henrique mas confesso que sendo ele um homem da academia, não me entristeci com sua primeira vitória. Pensei que a educação, um dos maiores problemas do Brasil, estaria bem encaminhada com ele. Que nada! De sua segunda vitória não quero nem lembrar.


Veio então a eleição de Lula e, ao contrário da maioria, não a lastimo. Gaúcha que sou, cresci ouvindo o Rio Grande chorar que Brizola nunca foi presidente. "Ah se fosse o Brizola...". Não queria agora um "Ah se fosse o Lula". Pois bem. Lula foi eleito... fez m... e não terei que aguentar esquerdista retardatário resmungando que só as elites governam este país. O povo chegou ao poder, e daí? 


E daí que eu não sou mais anarquista mas, mesmo assim, não tenho votado. Sou aquela brasileira que deixa pra transferir o título na última hora e quando chega no TRE a fila está tão grande que desiste. Mais uma vez vou justificar. Prometo que será a última vez. Assim como prometo que vou começar uma dieta na segunda-feira.


Ó céus! O que será de mim sem a oportunidade de escolher entre votar em Lula, Alckmin ou Garotinho? Pior! Como vou apaziguar meu coração ante a impossibilidade de decidir entre Álvaro Dias e Roberto Requião?


Definitvamente não foi pra isso que eu virei capitalista e depois neo-liberal.