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Amores em família

A obsessão que os autores de telenovelas têm pelos amores "em família".

Algumas vezes já comentei a obsessão que os autores de telenovelas têm com amores "em família". É um festival de filhos se apaixonando pela mulher do pai... irmãos disputando mulheres... uma gandaia.


Vejo nas bancas que as revistas especializadas da semana estão trazendo na capa a informação que Angélica (Paloma Duarte) estaria apaixonada por Matteo (Thiago Lacerda), ex-marido da sua irmã em Terra Nostra.


Pois vejam só... mais uma caso de incesto disfarçado.


Ao contrário do que muitos imaginam... o problema das novelas não está em apresentarem casos inverossímeis. Nada disso. Se formos traçar um paralelo com a realidade veremos que esta última é bem pior que a ficção.


O problema é que jogam fora oportunidades de fazerem alguma coisa que preste para se perpetuarem na superficialidade do gênero.


Tudo o que acontece nas novelas encontra eco na realidade. Mesmo as situações mais absurdas e os personagens mais esquisitos, idiotas ou sejam lá o que forem... tudo existe neste mundo. O caso é que não aproveitam os dramas sugeridos para uma análise razoável. Fatos acontecem porque acontecem... não há explicação, plausível ou não, para eles.


O que leva filhos a cobiçarem as mulheres de seus pais? Pelo que os novelistas deixam antever... apenas o amor. Não há uma doentia concorrência, um desejo subliminar de vingança sabe-se lá do que, um simples Édipo.... qualquer explicação, cretina ou não, para o que ocorre. Se apaixonam e pronto.


Exagerando "só um pouquinho"... parecem aqueles pais que, dentro de sua ignorância e doença, dizem ante ao juiz: "eu não sabia que não podia", referindo-se abuso sexual infantil cometido dentro do próprio ambiente doméstico.


A diferença é que nas novelas o final geralmente é feliz para alguém. O pai volta para a mulher, o filho arruma outra namorada... sem traumas e com muito perdão.


Imagine você, cara leitora, chegar ao almoço de domingo e dizer que está interessada no cunhadão. Está armada a cena rodriguiana. Sua irmã, cega de ódio, chamando você de canalha, vagabunda, piranha e por aí vai.


O cunhado, se fingindo de morto, implora em nome das crianças que você não revele as aventuras de alcova. Diz que a ama mas que as crianças precisam dele. A mãe, desesperada, corre para a Igreja ou para o analista, conforme classe social, cultural etc. De qualquer forma passa a infernizar sua vida com aquele ar materno de "onde foi que eu errei". O pai intensifica os plantões pois nada entende do que acontece.


E enquanto isso a "familhona", composta por tios, primos e agregados, se diverte entre comentários maldosos e infinitamente aumentados dos fatos. A única parte boa de você assumir tal paixão será a eterna dispensa de freqüentar as festas de final de ano em família. O único alívio para sua cabeça nesta história toda. Quem mandou você não ter nascido personagem de novela?


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No decorrrer da semana recebi algumas mensagens sobre meus comentários feitos a respeito do programa Ed Banana. A que me chamou mais atenção, contudo, foi a do leitor Harlley Guimarães. Longa e contestatória. Concordo quando ele diz que a TV brasileira nunca foi uma maravilha e cita exemplos... mas algumas conclusões por ele apresentadas merecem alguns comentários. A eles então:


"Não é mais interessante ver um desconhecido conquistar seu espaço, competindo com as poderosas Terras Nostras da vida?"...


Isto é muito relativo. Em geral as pessoas confundem "pequenos" com "alternativos". Não creio que os objetivos do proprietário de uma pequena fábrica regional de refrigerantes sejam mais nobres que os de uma Coca-Cola, por exemplo. É só uma questão de poder de fogo. Acho bom que o Ed (íntimo, não?) consiga trabalho e se sustente com ele, até gerando alguns empregos, mas daí a apreciar seu estilo e achar meritório o que ele faz... sei não. E quanto a Terra Nostra... gostar ou não de novelas da Globo é facultativo, mas não gostar só porque é da Globo me parece um tanto ultrapassado. Coisa do tempo em que ainda havia "camaradas" e em que a emissora representava a "voz do imperialismo ianque".


"Será que, se a sra. estivesse assistindo a sua colega de trabalho ao invés do Edilson Oliveira, a sra. seria tão dura?"...


Acho pouco provável que fizesse isso pois se fosse minha colega significaria que trabalho junto a ela e não seria ético escrever sobre meu próprio trabalho. De qualquer forma, se isto interessa... costumo ser bem crítica em relação ao que eu e meus colegas fazemos. Aqui mesmo, no Fórum do Baguete, recentemente corrigi pequeno mas fundamental equívoco cometido pelo editor desta publicação virtual. Da mesma forma já fui por diversas vezes bastante crítica com a Globo, mesmo, à época, prestando serviços para uma empresa do mesmo Grupo. E finalmente... não existe uma "entidade que baixa" na hora em que escrevo esta coluna. O tom aplicado aqui neste espaço norteia minha postura em qualquer situação, para o bem e para o mal. Meus colegas que o digam.


"Ou, finalizando, não seria mais fácil discutir o sexo dos anjos do que a questão qualidade/demanda? Acho que, a dureza de suas palavras não mudará a opinião das pessoas com relação ao que elas assistem na TV convencional. O problema não está na qualidade dos programas e sim na qualidade do povo"...


Ai, ai, ai, ai!!!!! Tenho que lhe dizer que nunca foi minha intenção mudar a opinião de qualquer pessoa através desta coluna. Jamais sugeri que parassem de ver aquilo que gostam de assistir. Apenas me reservo o direito de não gostar e de externar o que penso. E quanto a este negócio de "qualidade do povo"... o povo adora um pagodinho mas na hora de escolher a música do século fica mesmo com Ary Barroso, Tom Jobim etc. A pergunta é: o povo, via de regra, só vê porcaria por opção ou por que não lhe é dada opção?


Um abraço