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O bom, o belo e o lastimável

Jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão vem destinando nos últimos dias uma série de matérias relativas ao vigésimo “aniversário” do Maio de 68. Até o canal Futura, não se pode dizer que inoportunamente, reprisa a minissérie “Anos Rebeldes".

Jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão vem destinando nos últimos dias uma série de matérias relativas ao vigésimo “aniversário” do Maio de 68. Até o canal Futura, não se pode dizer que inoportunamente, reprisa a minissérie “Anos Rebeldes".


Aquele que buscou assistir o trabalho de Gilberto Braga de forma linear, como foi apresentado no período imediatamente anterior ao processo de impeachment de Color, danou-se. “Anos Rebeldes” está programado no horário denominado “Faixa Comentada”. Isto significa que de tempos em tempos a imagem é congelada e entra em cena o ator Eduardo Martini, que interrompe a trama para explicá-la.


O que a princípio parece insuportável, revela-se interessante. É claro que a fórmula pode não seduzir quem entende todas e tantas citações, mas é muito educativo àqueles que não têm a menor idéia do que se passa na telinha.


E não me refiro às questões políticas porque estas, em maior ou menor grau, são conhecidas. Na pior hipótese o público assinante de TV à cabo, mesmo em um sistema educacional precário, recebeu noções mínimas de história. Leu “O Que É Isto Companheiro”, “Feliz Ano Velho” ou ao menos cantarolou a indefectível “Pra Não Dizer que Não Falei de Flores".


O melhor de tudo nesta reprise é a contextualização de outro tipo de citações. Dois exemplos? Em um determinado capítulo, entre diversas paradas, Martini explica a cena em que João (Cassiano Gabus Mendes), irritado com os Atos Institucionais, diz que “isto é um Febeapá”. Ou quando conta para os telespectadores o que foi a revista Realidade, que aparece nas mãos do personagem de Mila Moreira.Isto já vale um capítulo. Sem dúvida é incomum que alguém com menos de 20 anos conheça o “Festival de Besteiras que Assola o País” (Febeapá), respeitado livro de Stanislaw Ponte Preta. E mais improvável ainda que consiga avaliar a verdadeira importância da revista Realidade, se já tiver ouvido falar dela.


O único aspecto realmente lastimável de “Faixa Comentada” é o veículo. Uma pena que esta idéia só encontre espaço em um canal que chega aos televisores brasileiros apenas via cabo ou parabólica.