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Trancada em casa pois sou do tipo que acredita na finitude, na letalidade do vírus e na responsabilidade que temos com o outro. E porque posso, obviamente. Neste cenário fico matutando sobre o que posso fazer pra acomodar minha vida e alma neste ambiente.

Já quebrei espelho, lixei e pintei parede. Joguei fora mesa e diminui numero de cadeiras. Coloquei chaise, rede e plantas no lugar. Tudo na minha cabeça.

Mas se há coisa que aprendi é que pensar é bom. Nos poupa de erros imensos. E a primeira avaliação foi que minhas necessidades em tempos pandêmicos não são as mesmas dos tempos normais. Que esta mesa grande bem que me alegra quando cheia de pessoas queridas ao redor.

Outra fato certeiro é que quando tenho a vontade de mudar um ambiente ou acomodar novos objetos (no caso minhas plantas) o melhor a fazer é esperar. Olhar o espaço atentamente. Pesquisar. A ideia certa vem.

E veio.

Apresento minha nova estante de plantas. Sem obras e sem perdas. Só ganhos.

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Da janela vi chegar uma cadeira de escritório para algum vizinho. Lembrei do meu pai.

Há anos ele recebeu uma herança que veio de forma parcelada. Ele então me deu um dinheirinho que eu poderia ter usado de mil formas mas tive a iluminação de comprar a cadeira ali da foto.

Mais um daqueles momentos em que não ser a louca do shopping traz benefícios.

Hoje minhas costas agradecem.

Aninho desgraçado este. E pra piorar, mais longo por bissexto.

Passo bem. Sem maiores sequelas por enquanto. Algum problema de concentração que me fez, apesar do excesso de tempo livre, ler menos que o usualmente faço. Filmes e seriados... só coisa leve. Não dou conta de nada muito tenso.

Tento fugir dos noticiários mas morando sozinha não há como escapar da internet. Mesmo sem querer sou obrigada a ver que somos comandados por uma intelligentsia que abriga pessoas que usam a língua do p como código secreto.

Noto que muitas pessoas mudaram coisas em suas casas neste período. Aqui fiz pequenos reparos nos lascadinhos em quinas de paredes. Virei um às da massa corrida, lixa e rolinho de tinta. Consegui liberar espaço trocando a churrasqueira por uma menor. Pensei em me desfazer da mesa de jantar por pouco uso mas desisti. Esta ideia precisa de mais tempo de maturação.

O que fiz de melhor, disparado, foi integrar plantas em casa. Não cheguei a criar uma urban jungle tão em moda, mas minha casa ganhou mais vida. Muita. Tentam me convencer a ter um bichinho só que, apesar de aprecia-los, sou uma canceriana e a possibilidade de ter meus estofados arranhados, roídos e/ou mijados me cai muito pior que a falta de um rabo abanando.

As plantas não. Elas dão vida e ficam na delas. Rego. Uma com a qual troco idéias me parece estar se desenvolvendo mais rapidamente. Pode ser loucura minha visto que é a que me chegou menor, normal que tenha mais potencial de arrancada.

Como sou novata na coisa, e sistemática, abri um Moleskine exclusivo com as dicas sobre cada uma. Dicas da minha fornecedora oficial, Turiya Brechó das Plantas. Cute!

Estou gostando deste hobby que foi se formando nesta ordem:

Estas plantinhas chegaram somando à minha horta e verdejaram minha vidinha por aqui.

E este post é só porque nada havia escrito este ano. E apesar do que dizem, 2020 existe.

1. Fabián e o caos - Pedro Juan Gutierrez

2. Afiadas - Michelle Dean

3. A Uruguaia - Pedro Mairal

4. Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais - Jaron Lanier

5. Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no cangaço - Adriana Negreiros

6. O peso do passaro morto - Aline Bei

7. A Resistência - Julian Fuks

8. Revolução Laura - Manuela D’Avila

9. Chelsea Girls - Eileen Myles

10. Tradutor de chuvas - Mia Couto

11. Sejamos todos feministas - Chimamanda Ngozi Adiche

12. Bonsai - Alejandro Zambra

13. A vida privada das arvores - Alejandro Zambra

14. Teoria King King - Virginie Despentes

15. A literatura nazista na américa - Roberto Bolaño

16. Aqui de dentro - Sam Shepard

17. Só as partes engraçadas - Nell Scovell

18. Lugar de fala - Djamila Ribeiro

19. A filosofia de Andy Warhol - Andy Wahrol

20. Distância de resgate - Samantha Schweblin

21. Lorde - João Gilberto Noll

22. Prólogo, ato, epílogo - Fernanda Montenegro

23. Duas damas bem comportadas - Jane Bowles

24. A ordem do dia - Éric Vuillard

25. Devoção - Patti Smith

26. O ano do macaco - Patti Smith

27. Tribunal da quinta-feira - Michel Laub

2019 foi um ano horrível. Não pra mim, particularmente. Pra humanidade. Reuniram uma canalhada e deram pra ela um brinquedinho: nós. Aqui, lá e acolá.

No grosso modo tive um ano sem grandes avanços. Mas sou mulher de minúcias e de âmagos. E aí eu brilhei.

Basicamente retomei a posse de mim mesma. Por muitas décadas encordoei um casamento no outro. É/foi bom mas viver plenamente e sem sofrimento, ao contrário, com prazer, a minha própria existência pequena, grande, medíocre, intrépida, safada, tímida, eloquente ou ensimesmada... foi fantástico.

Entrarei 2020 certamente mais Márcia do que nunca. Viva-se com isso.

(Texto modelo querido diário aproveitando que ninguém lê esta coisa mesmo).

Exatamente um ano após, em 15 de 2019, fui a mais uma edição do Popload Festival e para assistir a maravilhosa Patti Smith. De quebra outros shows também.

Não vou escrever... só postar algumas fotos:

Luedji Luna
Little Simz
Khruangbin
Tove Lo
Cansei de ser sexy
Hot Chip
The Racounters
Patti Smith

Rede social, internet em geral, jornais, rádio, tv e encontros presenciais. O presidente conseguiu ser o assunto único do país. Na bolha em que habito a percepção que temos dele é a pior possível mas respingam em mim alguns defensores e seus argumentos delirantes. De qualquer modo, tempos monotópicos.

Então eu tenho lido bastante. Não tanto quanto os blogueiros do setor mas uma media de três livros ao mês.

Nunca pensei que ler pudesse ser ferramenta para a "alienação". Vejam só que momento absurdo.

Em São Paulo para o Popload Festival. Várias bandas mas vim mesmo para ver Blondie. Debbie Harry mesmo.

Não sei se vi alguém mais velho que eu por lá. Uma moça até perguntou se eu teria ido pra levar minha filha. Comento pois uma das expressões que mais ouvi foi "tá difícil". Nas filas (nada grandes), nos banheiros... por tudo.

Dava vontade de dizer que difícil é ficar em casa vendo TV. Ou que difícil é lidar com artrose, aquilo ali é prazer. Geraçãozinha mimadinha da peste.

Logo após a vitória do coiso na eleição começou o processo de responsabilização. Ciristas e petistas se acusando mutuamente. Eu, sem ilusões puristas, curta e grossa as always, digo:

  1. Partidos políticos têm por finalidade chegar ao poder. Seja para sinceramente implementarem os planos de governo que julgam os melhores para aqueles que representam ou para se locupletarem. Desta forma acho lícito o PT ter insistido em candidatura própria, sobretudo para marcar sobrevida neste momento de agonia.
  2. Ciro tem projeto político pessoal e por genuína discordância programática ou para dissociar-se totalmente do movimento majoritário - o anti-petismo, decidiu por um voo solo. Ao menos por ora. Possivelmente se coloca em posição de oferecer asas que abriguem os minions que inevitavelmente se frustrarão em 3, 2, 1... Nenhum crime ai.
  3. Nos poupemos de afirmar, sobre estas duas forças, que “nunca mais”, “está morto” etc. Os cenários mudam e as escolhas eleitorais, sabemos, obedecem mais a critérios de exclusão que de convicção. O velho “política é a arte do possível”.

A chave de tudo são os ausentes. Quem são? Onde vivem? O que pensam? Pensam? Daqui a quatro anos, se houver eleição, vencerá quem ganhar os desiludidos da direita, a parcela dos hoje ausentes por orfandade representativa consciente e parte do eleitorado de esquerda temerosa de uma nova lambada como a deste ano.

Se houver eleição, repito