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Gabi vira “escada” pra Carla Peres

O horário é praticamente o mesmo, domingo-23h30, mas uma geração separa "Cara a Cara" e "De Frente com Gabi". Mudaram os tempos, mudaram as celebridades ou mudou Marília Gabriela.

O horário é praticamente o mesmo, domingo-23h30, mas uma geração separa "Cara a Cara" e "De Frente com Gabi". Mudaram os tempos, mudaram as celebridades ou mudou Marília Gabriela.


Os dois programas, praticamente de mesmo formato, agora tão distanciados em anos quanto em "quilate" dos entrevistados. Yasser Arafat levantou da poltrona e deu lugar a Hebe Camargo. Fidel Castro, entrevistado quando ainda mito, cedeu o assento (a cadeira, entenda-se) para Carla Peres.


Com todo o respeito pelas famosas e falsas louras, e com todo o desprezo pela classe política... há uma bela distância entre os programas duas Gabis. É como se entre a política e a diversão de massa não houvesse nada. Fosse o limbo. É claro que na década de 80, ambientação de "Cara a Cara", uma entrevista que reunisse política, pensamento, livre falar e um clima de íntima verdade era revolucionário. Ainda mais quando a jornalista era uma mulher.


Naqueles dias todos ansiavam por alguém que chegasse na televisão e arrancasse respostas inteligentes de pessoas que tinham o que dizer. Ou mais, as pessoas ansiavam ouvir o que estas pessoas tinham a dizer porque isto era novidade no país. Era um deslumbramento com a informação anteriormente roubada.


Hoje não. Hoje parece que todo mundo já está cansado de ouvir qualquer coisa e a filosofia que impera é a do "bullshit". É o escancaramento do cinismo e da descrença, alimentados pela pobreza que tomou conta da televisão brasileira. Nunca foi tão caro fazer televisão, nunca se gastou tanto e nunca se teve tão pouco pra gastar na televisão. Os talk-shows investem todas as fichas no carisma e capacidade do entrevistador, é o caso da Gabi e também do Jô Soares, e pouco sobra para a produção se esmerar.


Entrevistar uma celebridade de verdade sai bem mais caro do que cair na tentação fácil dos oferecimentos que chegam por telefonemas, cartas e mails de cada canto do país às equipes de produção destes programas. E acaba nisso, Marília Gabriela - o similar mais próximo que tínhamos da legendária repórter italiana Oriana Fallacci - cede aos sucessos do momento, ao apelo popular e aos bem elaborados planejamentos de marketing. Vira "escada" pra Carla Peres e congêneres.


E nem ineditismo tem a seu favor. A gente muda o canal e as cenas se repetem. São os mesmos entrevistados, plantonistas de estúdio, só variam emissora (nem sempre) e entrevistador. E depois de um tempo parece que nem estes mudam. É por isso que "De Frente com Gabi" é muito, muito triste. É patético e dá uma certa saudade.